"Game of Thrones" fez a temporada mais feminista de todas
que transforma Game of Thrones em um fenômeno quase unânime da cultura pop são os momentos grandiosos, como este de Hodor, como a Batalha dos Bastardos, do episódio 9, executada de maneira praticamente impecável, ou a sucessão de reviravoltas do final da temporada. Sem surpresas, o ano seis esteve cheio destes momentos, e para continuar citando os que tomaram a internet, o grande momento de Daenerys (Emilia Clarke) no episódio 4 também entra para a lista. Mas seria impossível e contraproducente para a série se ela se prestasse a entregar uma dessas cenas de tirar o fôlego a cada episódio – e é quando ela tira o pé do acelerador que a temporada acaba caindo em certos equívocos.
Não é uma questão de os episódios com menos ação serem necessariamente monótonos. A primeira temporada, por exemplo, era repleta de diálogos e incursões políticas, e nem por isso ela é tida como monótona – pelo contrário, segue muito elogiada. A diferença é que, aqui, os episódios mais mornos foram recheados com conversas insignificantes, enfadonhas ou por vezes tão óbvias que cansaram. Jaime foi rebaixado a um capacho de Cersei, e apesar da ótima entrega do seu intérprete (Nikolaj Coster-Waldau), a idiotização do personagem (e não há forma melhor de conceituar) tirou muitos de seus méritos, e foi extremamente exaustivo vê-lo reafirmar o amor por Cersei (Lena Headey) em absolutamente todos os episódios. Parecia que era a única coisa que ele, um personagem tão complexo, tinha para dizer. Sua única motivação. O Jaime da série está a milhas de distância do Jaime dos livros, e este último, não tem como negar, é muito mais agradável, tridimensional e motivado.
Melisandre (Carice Van Houten), que foi essencial para o retorno de Jon Snow, ficou completamente apagada do restante dos episódios. Muito embora tenha ganhado um foco preciso no primeiro episódio, ela só foi ter outro momento importante na season finale. A sua fé e seus segredos, embora importantes, foram deixados de lado, e a personagem se transformou no maior Deus ex machina de toda a temporada. Da mesma forma, o retorno do Cão de Caça, completamente apagado de seu contexto original, mostrou um personagem que em nada mudou desde sua experiência de quase-morte. Tal qual Jaime, muito inferior à versão dos livros.
Apesar de algumas mudanças em relação aos livros serem amplamente criticadas, outras foram bastante satisfatórias. A cada episódio que passava, foi ficando mais clara a ideia de que o foco foi colocar a força nas personagens femininas. De Daenerys Targaryen (Clarke) e Yara Greyjoy (Gemma Whelan) a Sansa Stark (Sophie Turner) e Lyanna Mormont (Bella Ramsey), as mulheres definitivamente mostraram muito mais força do que os homens. A estratégia parece vir como uma espécie de resposta, ou redenção, após as inúmeras críticas que a série recebeu no passado por cenas de estupro e nudez agressiva ou desnecessária. A violência sofrida por Sansa na quinta temporada foi o estopim das críticas e o ponto de virada para a história da personagem. E que virada! A história de Sansa foi a mais atraente, forte e equilibrada da temporada. Em cada episódio, ela foi capaz de entregar um momento decisivo, uma participação importante nos grandes eventos, em uma demonstração invejável de força e brilhantismo. Ela demonstrou que aprendeu a jogar o “Jogo dos Tronos”, e embora seja tão diferente da Sansa de duas temporadas atrás, a mudança é perfeitamente plausível e natural. Os elementos que a justificam foram bem expostos e tornam a transformação algo que fez dela, merecidamente, uma das novas favoritas. Mérito, esse, da série, já que a Sansa dos livros está em um lugar completamente diferente.
como a história de Arya (Maisie Williams) neste ano. Ao longo das críticas dos episódios, nós pontuamos que essa passagem dela por Braavos, na Casa do Preto e Branco, guardaria muitos aprendizados para a personagem. Porém, a impressão que fica é que o maior feito de Arya foi conquistar uma inimiga. A vilanização exagerada da personagem que corresponde à Criança Abandonada dos livros é algo que particularmente incomoda por surgir da necessidade pura de criar um vilão onde um não existe, e acabar com qualquer nuance de personalidade que poderia haver para a personagem. Muito embora tenha sido bom ver Arya anunciando seu retorno para Winterfell, o clímax perde um pouco da força após as perseguições e a ‘cura milagrosa’ que se segue depois de ela ter sido esfaqueada. Se a passagem dela por Braavos tivesse sido abordada em menos episódios, ao invés de ter sido arrastada por seis deles, poderia ter causado um impacto maior, e até mesmo ter tido tempo para mostrar a viagem dela de volta a Westeros, ao invés de sua repentina aparição na mesa de jantar de Walder Frey. Momento este que, aliás, valeu por toda a temporada. Bem-vinda de volta, Arya Stark.
Em uma temporada que se beneficiou da força das mulheres, reuniu Starks e teceu grandes revelações, fica evidente que Game of Thrones está juntando as peças para chegar ao final da história.
O inverno finalmente chegou. Há três dragões chegando a Westeros. Daenerys finalmente embarcou. Jon Snow é o Rei do Norte. Há uma horda de Caminhantes Brancos querendo atravessar a Muralha. E um dos dois, ‘Lobo Branco’ ou ‘Mãe dos Dragões’, é provavelmente a chave para derrota-los. “Resta” saber qual. E como.
Nota 10,0



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